Versos
a uma cigarra
Ela
cantou lá fora o dia inteiro -
veio
hoje à tarde morrer aqui na minha
mesa. . .
-meu olhar que ainda há pouco
estava alegre e cheio
de luz, turvou-se agora em singular
tristeza. . .
Ouço
(e já ouvir não posso), o estríduo
gorjeio
que é a marcha funeral da tarde
azul-turquesa,
-sobre a folha do bloco onde ela
está, releio
um verso que hoje fiz ao sol e
à natureza!
Ela
andava lá fora, era a boêmia do
céu!
Mas na hora de morrer, trocou
o azul de anil
pela folha de um simples bloco
de papel . . .
Na tristeza em que estou, ao menos
me conforta
saber, que aquele poema que escrevi,
serviu
para embalar o sono da cigarra
morta!