Você tem tempo?
Conheço
um mundão de pessoas que dizem nunca ter tempo para fazer as coisas mais
necessárias. Sempre ocupadas demais, não sabem com quê.
Nenhum momento disponível para escrever um bilhete, para uma palavra
de amizade a um parente ou a uma pessoa amiga. Nenhum minuto para dar um telefonema
de parabéns ou mesmo dizer qualquer palavra amável a alguém
que teria grande alegria com essa atitude. Nenhum segundo para uma leitura proveitosa,
para um acréscimo ao conhecimento de utilidade, para um brilhozinho na
cultura e na atualização do que anda acontecendo no mundo. Conheço
um mundão de pessoas que só têm olhos para o que nada acrescenta
de melhor à própria vida. Conheço-as e tenho pena de todas
elas, pobres coitadas...
É que não existe nada no mundo mais importante do que o tempo,
a correta administração do tempo, esse ente incompreensível
que só é longo quando a criatura vive ou se encontra mergulhada
no sofrimento e na dor. O tempo passa devagar só nas horas em que ele
deveria correr mais depressa, quando estamos na angústia da espera de
que ele logo se acabe, seja no leito da doença, seja na fila interminável
que nunca anda. É difícil díspares de tempo para todos
os compromissos, mesmo aqueles bem distribuídos na agenda mental ou até
na de papel, principalmente aquele tempo que costumamos dizer que vale ouro,
patrimônio sagrado que ninguém tem direito de malbaratar sem graves
danos.
"Há quatro coisas que não voltam atrás: a pedra depois
de solta pela mão, a palavra depois de proferida, a ocasião depois
de perdida, e o tempo depois de passado". Não me perguntem quem
disse isso, que foi um tal de H. Riminaldo, que não sei quem é...
Mas, que ele está certo, isso está, inclusive por mais isso: "A
maior parte do nosso tempo, passa-se a passar tempo". Trezentos e sessenta
e cinco dias do ano podem ser comparados a trezentas e sessenta e cinco áreas
de plantio, cotas igualmente distribuídas para cada um em particular
e para todos em conjunto, cada qual com certa liberdade de cultivá-las,
dependendo do modo de pensar e agir.
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito
debaixo do céu", diz o Eclesiastes no início do seu capítulo
três. "Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar,
e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo
de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de ri; tempo de prantear,
e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar, e tempo de fartar-se de abraçar; tempo de buscar,
e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar
e tempo de coser; tempo de estar calado, tempo de falar; tempo de amor, e tempo
de aborrecer; tempo de guerra, tempo de paz".
Assim, há tempo para tudo, para a sublimação do santo,
para a beleza do ato heróico, para a grandeza do sábio, para a
angústia do penitente, para a provocação, para a alegria
da simplicidade e até para a crueldade do malfeitor de qualquer grau.
É o tempo um caudal de angústias e de tribulações
para quem não saiba vivê-lo, ou simplesmente um limbo de inexistências
par quem o deixe passar sem idéias do que fazer. Tempo é mar de
ondas que nunca voltam, é chuva que passa sem obstáculos, um relógio
de corda sem fim...
E como você teve tempo de terminar... Perdoe-me se tomei muito do seu
tempo!