“Um pequeno Rei”
Recebo de minha
colega de Fafil, Professora Ireny Caldeira Oliveira, com um pedido de apreciação,
o livro “Um Pequeno Rei”, coletânea de contos infantis de
José Flávio Juca, primo do Fran, marido de Ireny. É livro
pequeno, porque destinado a crianças ou adultos que gostem de ler rápido
e em pouco tempo. Edição de 1982, da minha saudosa cidade de Fortaleza.
“Um Pequeno Rei”, tem prefácio de uma garota de 9 anos, Flavia
Girão J. Araújo. Trata-se de uma estorinha de um menino de seis
anos, que já queria ser adulto. Aliás, que já estava vivendo
num mundo de adultos, sendo a vida de criança apenas um sonho. Um sonho
que, imaginário como todos os sonhos, teria de durar muito e ser real,
para trazer a criança, de novo, feliz...
“Não se preocupem se, por acaso, encontrarem uma ou outra palavra
cujo significado vocês não entendam ou não conheçam;
o importante é compreenderem o que o Zezinho sentiu; as palavras difíceis
só estão aí para facilitar o entendimento da estória
pelos adultos que queriam também lê-la. Se, mesmo com tanta palavra
difícil, vocês não conseguirem entender a estória
do Zezinho, peçam para uma criança lhes explicar. O que ela disser,
escrevam em um papel, palavra por palavra, que eu assino embaixo”. Foi
o que disse o autor, num esclarecimento à guisa de prefácio, o
que já dá para sentir que muitas vezes a criança entende
mais do que as pessoas que já se julgam crescidas...
Zezinho, a personagem central, ou praticamente a única personagem tinha
mesmo de ser adulto: “ – Menino, tira essa chupeta da boca; você
já tem três anos, já é quase um homem”... “-
Não tem vergonha, com quatro anos e ainda faz pipi na cama?”. “
– O quê? Com cinco anos e ainda não sabe amarrar um sapato?”.
“ – Que é isso rapaz? Você é um homem, e homem
não chora...”. Cedo ou tarde, Zezinho tinha de tomar uma decisão:
dormir mais tarde, falar mais grosso, dizer mentiras, juntar dinheiro, usar
cuecas, fazer besteiras, ler jornal, ter dores de cabeça....etc... etc.
Também tinha de deixar para trás algumas obrigações:
tomar mingau, comer sopinha, jogar bola de gude, andar pelado, ser soldado de
mentira, chupar chupeta, sujar e sujar-se, brincar do rei ou de príncipe...
Zezinho passou a ser sério, pensativo e, triste. Ficou de uma tristeza
que só os adultos sabem sentir. Esqueceu-se dos brinquedos, dos sonhos,
dos contos de fada e do urso de pelúcia. Zezinho ficou diferente...
Só um sonho poderia salvar Zezinho, como só um sonho poderá
salvar muitas pessoas. E foi um sonho que salvou o Zezinho do livro de Flávio
Juca, bom sistema de ensinar a realidade, de colocar cada criatura no mundo
do seu tempo mental, criança ou gente grande. Pena que o livro, publicado
no Ceará, esteja fora do alcance do leitor mineiro, longe, além,
muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, pertinho de onde
Iracema corria para ver de perto o seu guerreiro branco. Afinal, não
é todo dia que podemos ter bom produto da Terra dos verdes mares de Alencar...
Quem, entretanto, tiver oportunidade, não deixe de ver “Um Pequeno
Rei”. É experiência que vale a pena. E pode trazer muita
felicidade...