Um não à Torre de Babel
Prometi escrever
de Brasília, na semana passada, e não pude cumprir a promessa,
por falta de tempo, parte minha, parte do Correio que não teria condições
de entregar o original antes da quinta-feira. O assunto, naturalmente, seria
o 66ª UNIVERSALA CONGRESSO DE ESPERANTO, encontro internacional realizado
pela primeira vez no hemisfério sul, com escolha da capital brasileira,
por ser a Cidade da Esperança, sendo também o nosso país
o sétimo no mundo a falar a língua criada por Luiz Lázaro
Zamenhof. Passou a edição do JORNAL DE DOMINGO, mas não
passou o assunto, pois ainda estou vivendo os ecos da participação
de 1757 congressistas; vindos de 53 nações diferentes e espalhadas
neste mundão de meu Deus.
Que complicada Torre de Babel seria o Centro de Convenções de
Brasília, com seus imensos salões e auditórios, o restaurante,
as cantinas, os corredores, o “hall” de recepção,
os jardins em volta, não fosse a língua oficial o Esperanto! Por
toda parte havia gente de todas as cores permitidas pelas raças, caras
de todos os feitios, cabelos que iam do pixaim até o louro esvoaçante
das gentes nórdicas e brancas puro de velhos e velhinhas da velha Holanda.
Um agrupamento humano, de pobres e ricos, maduros e jovens, alegres, compenetrado
e colorido, mas, acima de tudo harmônico, com uma sonoridade toda especial,
sem sotaques. Gente boa, tomada de um maravilhoso espírito fraterno,
de boa vontade inconfundível, todos querendo viver uma proveitosa semana
de intercomunicação cultural e científica.
Foi bom o encontro, a começar pela reunião inaugural no auditório
do Parlamento, plenário e galeria cheios, presentes o Vice-Presidente
da República e representações do Senado, da Câmara
e do Corpo Diplomático. Só o mineiro Aureliano Chaves e o tradutor
falaram em português. Os demais, inclusive o Senador José Lins,
presidente dos Esperantistas, durante a semana, falaram em esperanto e só
em esperanto.
Quem sabia muito entendia tudo, quem sabia pouco ou não sabia, entendia
muita coisa, pois as palavras nacionais do esperanto não são muito
diferentes das nossas portuguesas. Sem dificuldade, mesmo não tocando
por música, dá para tirar de letra muita sabedoria...
Daí pra frente, foi um longo desfile do que havia de melhor na fraternidade
mundial, iniciando o Congresso por uma missa na Catedral de Brasília,
rezada por cinco padres esperantistas. Nunca havia menos de cinco ou seis reuniões
simultâneas. Jogos de xadrez, festivais de músicas japonesas, demonstrações
de filosofia chinesa, corridas de ciclistas internacionais, folclore brasileiro,
teatro, concertos, apresentações de poesias, encontros de religiosos
de várias crenças, lançamento de livros, distribuição
de propagandas, aulas e mais aulas em todos os níveis, conferências,
discursos, busca e mais buscas de soluções melhores para o mundo
em que vivemos. Rádios e televisões de outros países gravavam
e filmavam tudo, de longe, seguidas pelas brasileiras que, não sei por
quê, não deram todo apoio que podiam ou deviam dar.
Foi uma experiência maravilhosa para quem, esperantista de pouco mais
de vinte dias, pôde sair do encontro, entendendo quase tudo.
Não está fora de cogitação a ida, em 1982. ao 67º,
a ser realizado na Bélgica. Creio que valerá a pena.