Sucesso ou Felicidade?
Tenho pena das
pessoas que vivem sempre em estado de prontidão, à espera de um
alarme, de um sinal, de um apito, pressionadas pelas exigências criadas
pela própria vida de obrigações, ou pelas coações
ou forças interiores, espirituais ou psicológicas, emitida a cada
minuto. Tenho pena das pessoas que não aprenderam ou não querem
aprender a desarmar-se na hora certa, numa descontração natural.
E tenho pena dessas pessoas, infelizmente, no mundo de hoje, quase que fico
com uma multidão de amigos nesse rol imenso de gente que só vive
no meio de angústias. E não é bom, porque a vida é
feliz ou infeliz, dependendo do que cada pessoa faz dela, da maneira como age
ou deixa de agir.
Confesso que também não sei se há amigos por aí
com pena de mim, achando que estou dando conselho que não consigo obedecer,
uma vez que também não me escapo da pressa, da multidão
de compromissos, do que é fazer mais do que necessário, daquele
achar que existe pouco horário pela frente para executar todas as tarefas
do mundo num tempo curto. Mas como conselho não é para seguir,
é para dar, e dar de graça, que nunca se viu alguém pagar
conselhos. “Faça o que mando, não olhe o que faço”,
tem sido um treiteiro ditado brasileiro, coisa da nossa arguta formação
misturada de três raças, nem sempre sérias.
O nosso mal é que queremos ou precisamos valorizar demais o sucesso,
a competição, vitória que não se sabe qual será
ou poderia ser. Nosso mal é não buscar somente a felicidade, como
fazia antigamente o artesão, que visava apenas ao bem-estar, um sossego
tranqüilo de consciência, uma calma que oferecia muito mais qualidade
de vida. Nunca me esqueço dos velhos sapateiros, das mulheres rendeiras,
das cozinheiras que faziam cuscuz, dos lavradores de enxada e arado de tração
animal, dos consertadores de cerca. Não me esqueço do tempo de
futebol-arte sem tanta correria para passar na frente dos competidores. Essa
tal filosofia do “importante é ter êxito” da era pós-industrial,
instilada pelos donos de empresas, é que está atrapalhando tudo.
Dizem que o homem tem angústia é pelo fato de ser o único
animal que sabe da própria morte, ou melhor, que tem consciência
de que vai morrer. É possível que isso lhe dê o aspecto
altamente competitivo em que marca cada um dos seus dias, com a pressa de vencer,
de conseguir o equilíbrio financeiro, a segurança, a posse, o
prestígio social, o mando, infelizmente tudo muito relativo, pois nunca
ninguém sabe o que é realmente suficiente a ponto de parar a luta.
Não seria melhor voltar para o lado lúdico da vida? Por que não
sempre buscar só a felicidade? Porque não imitar nossas crianças
tão pouco preocupadas com a vitória imediata e muito mais envolvidas
com o misterioso gosto do viver alegre?
Não se pode dar todas as soluções. Mas de uma coisa creio
que estou muito consciente: é preciso urgentemente aprender a viver a
vida!