Domínio da Cultura
Edward Lopes,
citando o antropólogo Claude Levis Strauss, uma das inteligências
mais brilhantes deste século, sugere uma regra elementar, a da proibição
do incesto na ordenação do instituo biológico, como uma
ruptura entre o universo das coisas naturais – de modo a formar o mundo
e o domínio da cultura, o que, em última análise, separa
as diferenças entre o homem e o animal, entre o racional e o não
racional, entre o bruto e o dito civilizado.
De fato, pertence ao universo da cultura tudo o que o homem realizou em acréscimo
à Natureza, através do trabalho transformador do mundo, seja ele
positivo ou negativo. Pertence ao universo da cultura tudo o que não
é hereditário, não ensinado ou não aprendido pelo
homem. Cultura é produto de aprendizagem, de absorção pelas
práticas sociais, daquelas condições que só o elemento
humano é capaz de conservar, transformar e, sobretudo, transmitir através
do ensino.
Cultura – traço adquirido pela imitação e pela experiência,
pelo erro e pelo acerto – todo homem possui, por efeito do próprio
ato de viver no seu grupo social, no seu clã familiar. Em cada comunidade,
de pouca ou muita expressão civilizada, com ou sem grau de escolaridade
– isso para encontrarmos um mais conhecido traço de comparação
– temo seu substrato, estrato e até um possível superestrato
de conhecimentos capazes de tornar a vida normal e suportável como atividade
social, uma vez que cultura e sabedoria não estão associadas apenas
aos bancos escolares, mas a toda observação e aprendizagem.
O que determina o grau de cultura, menor ou maior, é a soma de signos,
de símbolos, isto, na memória, no raciocínio de cada indivíduo
ou de cada grupo social. O grau de cultura é a capacidade individual
ou coletiva de distribuir e unir os signos, paradigmática ou sintagmaticamente,
formando e transformando imagens de pensamento, com infinitas possibilidades
de transferir informações, de produzir comunicação.
Certo é que, quanto mais signos existir em nossa estrutura intelectual,
mais motivação cultural somos capazes de criar e conduzir, de
geração para geração.
Os signos, realidade cultural, criação e modernização
de imagens do mundo, existem internamente como figuras mentais conscientes e
inconscientes, chegando a ponto de criarmos modelos até para os possíveis
objetos, ações ou indivíduos que desconhecemos ou apenas
acreditamos existir, como, por exemplo, os discos voadores, danças movimentos,
que nunca presenciamos; sentimentos que nunca sentimos; ou figuras como santos,
anjos, duendes sílfides, gnomos, deuses, produtos da crença ou
da crendice popular. Os signos são afinal uma espécie de conhecimento
nosso de uma realidade fenomênica, quase sempre formando um sistema lingüístico,
através do qual vivemos e nos comunicamos com os nossos semelhantes.
Existem, na verdade, várias realidades que compõem a nossa vida,
como elementos que pensam, falam, comunicam, expressam sensações
através das artes, constroem símbolos e ritualizam tudo ou quase
tudo. É que há várias relações: entre o homem
e o mundo – mediatizada pelo pensamento; entre um homem – dentro
de uma sociedade; mediatizada pelos signos; entre os signos e outros signos,
- na formação dos sintagmas; tudo a marcar um conjunto psíquico
e, em última hipótese, de ideologias psicossociais.
Enfim, conforme foi proposto por Charles Sanders Peirce e Charles Morris, campeões
da Semiótica e da Semiologia, são três os pontos de vista
sobre os quais repousam o signo e uso do signo na comunicação
humana: relação do signo para signo, com a função
sintática; de signo para com o seu objeto, na função semântica;
e de signo para com o seu usuário, na função pragmática.
O nível semântico engloba o nível sintático e este,
por sua vez, é englobado pelo nível pragmático.