Cronista, um narrador-repórter
Antes de mais nada,
é bom dizer que crônica é coisa de jornal. Sempre feita
depressa, com hora marcada, muitas vezes com atraso. É construída
de pequenos lances, registrando mais o circunstancial do que o definitivo. Assuntos
efêmeros, que, vez por outra, ganham a concretude, a universalidade, um
jeito especial de ultrapassagem das fronteiras do tempo e do espaço.
Soma de jornalismo e literatura, comentário de assuntos que podem ser
ou não ser do conhecimento do público, a crônica terá
- queira ou não – um ângulo subjetivo de interpretação
do fato, algo recriado pelo cronista, busca do existente ou do imaginário
muito próxima do conto, muitas vezes confundidas com ela, a crônica
é uma narração do próprio autor dentro de sua experiência,
de sua visão, como que uma reportagem comentada quase ao nível
poético.
Crônica tem de ter aparência de simplicidade, mesmo que seja construída
com todos os recursos artísticos. Como um jornal nasce, vive, envelhece
e morre a cada dia, a crônica é destinada a leitores apressados,
feita para um momento de leitura. Precisa, entretanto, de pelo menos um sentido
de duração, uma mensagem que deverá ficar na memória.
Não pode ser esquecida com a folha impressa, mesmo que esta seja jogada
fora. Crônica não é notícia comum, codificada só
para informação diária. Tem profundidade, é mais
para o sentimento, com palavras que vão diretamente à emoção
do leitor, que também se transforma em cúmplice ideológico
da condição humana de quem escreve. É um reencontro com
o prazer ameno, uma intensidade de sinais de vida que, se não escritos,
acabam escapando.
Claro que é a pressa de viver do cronista a vontade de estar presente
e de ser ao mesmo tempo em determinado lugar, que o faz testemunha, porta voz
e intérprete de um quase real muito gratificante. A crônica é
mais um espaço de dimensão interior repartida entre escritor e
leitor, uma ternura resgatada das experiências de cada um. Cada palavra,
cada frase, cada silêncio representarão um significado mais individual
que coletivo, pois, no fundo, a crônica é uma conversa entre duas
pessoas, um conluio positivo e amigo. Um vê o mundo e a vida da mesma
forma que o outro gostaria de ver, mas não viu, ou não sabe ver.
Assim, o autor constrói o texto e lhe dá o colorido quase que
precombinado com o seu parceiro leitor. Comparada com formas mais consistentes,
a crônica é mais uma barraca que uma casa de verdade. Serve só
de abrigo ao espírito, como um ato de reflexão compartilhado,
mágico, de conforto ligeiro.
Na verdade, a crônica é algo que muito existe, mas que se não
fossem os olhos de espião do cronista, jamais apareceria em público.
É que acontecido não escrito fica apenas como potencialidade,
disperso conteúdo não sentido, essência não encontrada.