Correspondência e amizade
De todas as manifestações
de amizade e de carinho, a correspondência é uma das mais interessantes,
a que toca mais profundamente a sensibilidade de quem escreve e de quem recebe.
Bom e agradável é ver nas mãos do carteiro um envelope
com letra amiga, o nome escrito por quem de alguma forma quer a nossa felicidade,
o nosso contentamento. Escrever para as pessoas a quem queremos bem deveria
ser um exercício de todos os dias, uma espécie de doação
espontânea e viva, própria de almas afeitas à camaradagem,
ao exercício da saudade construtiva, ao apego positivo e enriquecido.
Afinal, a escrita é o gesto gravado com tinta e amor, direto e pessoal,
até mesmo quando feito com os recursos mais modernos que não os
do próprio punho.
O que mais atrapalha as pessoas no ato de escrever aos amigos é a falsa
noção de que correspondência tem que ser sempre sob a forma
e a formalidade de carta, com todos aqueles palavrórios cheios de cerimônia
e gramatiquices, com tratamento sério, repositórios de salamaleques
verbais. Mas acontece que correspondência de amizade não é
isso, é coisa muito mais simples, mais pessoal, despretensiosos gestos
de simpatia através de um vocabulário do dia-a-dia, uma comunicação
sem preconceitos, direta e limpa de enfeites. Um bilhete, um recado, um conselho,
uma consulta, uma informação, um cumprimento, tudo o que dirigimos
por escrito a uma pessoa amiga constitui correspondência.
É preciso aprender a escrever com freqüência, criando pontes
de amizade, demonstrando que nossa memória está firme, de que
o esquecimento e a ingratidão não são os nossos maiores
defeitos. Não deixemos que o telefone, que nunca registros, seja um impedimento
à nossa correspondência. A palavra escrita ainda vale muito mais
porque, guardada, será sempre uma boa lembrança, uma forma de
recordação. Aproveitemos qualquer papel, não importa o
tamanho, a cor, a origem. Escrevamos à tinta, a lápis, de forma
calma ou apressadamente, mas escrevamos. Por que não usar um cartão,
uma nota de compra, um recorte de jornal ou revista e, em último caso,
até mesmo um papel de carta propriamente dito?
O que interessa é nosso interesse pelo ato de comunicar, de dizer que
estamos vivos, que ficamos alegres com a alegria do amigo, felizes com sua felicidade.
Se não pudermos escrever vinte linhas, que escrevamos dez. Se não
pudermos escrever dez, escrevamos três, mas não deixemos de escrever.
O sorriso interior criado pela nossa amizade vale mais do que todas as fortunas
do mundo!
Experimente hoje mesmo!