Como acabar com uma idéia
Claro que
existem mil maneiras de acabar com uma idéia, sepultá-la, dispô-la
em justo e eterno esquecimento, principalmente se essa idéia não
for do interesse ou do agrado de quem tenha, no momento, o poder de decisão.
Praticamente, todo presidente de reunião ou assembléia sabe disso,
todo dirigente tem até uma fórmula de solução para
cada caso, quando isso lhe é de seu desejo. Assim, matar uma idéia
nunca é difícil, não dá trabalho, basta um pouquinho
de má vontade. O que é difícil é criar, construir,
elaborar, fazer alguma coisa de útil, beneficamente social, favorável
a todos os interessados, ajustável à famosa prova quádruplo
de que o Rotary Clube gosta tanto de divulgar em todo o mundo, em todas as línguas:
“É a verdade? É justo? Criará boa vontade e melhores
amizades? Será benéfico para todos?”.
Matar uma idéia é realmente fácil, nem precisa muita inteligência
ou muitos argumentos para isso. Até os menos dotados de raciocínio
conseguem. Qualquer um desses falsos líderes de qualquer campo de atividade
consegue, principalmente nos chamados grupos de trabalho, nas famosas comissões,
nos comitês. Com os novos ricos, então, é que tudo fica
aplainado para uma derrota, já que eles, querendo tudo poder, acabam
não podendo nada e mergulhando num terrível fracasso. Os políticos
que superestimam seu poder de fogo, que se julgam grandes, que tudo fazem para
aparecer, esses coitados, dão até pena, principalmente os que
se vendem por um emprego ou uma representação. Uns que trocam
de partido todo dia, que vivem como baratas tontas à procura de migalhas
de prestígio ou de dinheiro, espécie de procuradores de partes,
esses são verdadeiros sepultadores de idéias, vendilhões
do templo de qualquer era.
Quem deseja acabar com uma idéia não precisa fazer muito esforço,
não precisa suar a camisa, pode ser até um grande perdedor, um
fracasso na vida em qualquer situação. Quem precisa sustentar
idéias alheias quando as suas nunca chegam ao alvo vitorioso? Melhor
que todos fracassem, que todos percam, que a ilusão seja geral, porque
assim ninguém supera ninguém, fica tudo do mesmo nível.
Afinal há o mundo dos que vencem e o mundo dos que só perdem,
que nunca encontram uma vitória. Há o mundo dos que acreditam
e há o mundo dos que invejam, que ambicionam, dos que sempre são
dependentes de outrem pelo poder ou pelo dinheiro, esse o mundo dos vendidos,
dos alugados mesmo que seja por pouco tempo. Um pobre mundo de pobres sonhos...
“Isso não me anima nem um pouco”. “É complicado
demais”. “Isso não está de acordo com as coisas que
a gente faz aqui”. “Não é possível, e pronto”.
“Todo mundo vai dizer que somos uns idiotas”, (e às vezes
são mesmo!). “Este é um assunto para outra reunião”.
“Isso não se adapta à nossa filosofia”. “Em
time que está ganhando não se mexe”. “Eu já
vi essa história antes”. “Não vem que não tem”.
“Não vai funcionar”. “Ninguém vai entender sobre
o que você está falando”. “Esse é outro lado
da história”. “Eu tenho uma idéia melhor”.
“VAMOS FORMAR UM GRUPO DE TRABALHO”. Isso mesmo, “vamos formar
um grupo de trabalho”, é a melhor forma, às vezes, de acabar
com uma idéia, principalmente quando esse grupo é uma comissão
de inquérito para fiscalização de gente de muita ambição.
De todas as formas para acabar com uma idéia a mais decisiva é
a formação do grupo de trabalho, de certos tipos de blocos. Nomear
uma comissão é tiro e queda! Não há sugestão
que fique de pé, que tenha andamento, quando o presidente de uma comissão
for o próprio autor da idéia. Os coordenadores de reuniões
sabem disso: quando alguém fala muito, dá muito palpite, quer
resolver de vez todos os problemas da vida e do mundo, não precisa muita
coisa para provocar silêncio, basta uma nomeação de presidência
para dirigir outras pessoas. Quase sempre morre o grupo e sucumbe o ideal.
Construir é que é difícil.