Apresentação
Wanderlino
Arruda
Este é
o terceiro título publicado por Wanderlino Arruda. Anteriormente, já
havia editado dois volumes de crônicas, ambos recebidos com agrado pela
crítica e pelo público. Sua estréia em livro ocorreu com
"Tempos de Montes Claros", enfeixando uma coletânea de escritos
publicados na imprensa sobre pessoas e coisas de nossa cidade, que é
sua terra adotiva. Considero oportuno recordar que o Autor, dada à sua
perene produção intelectual, demorou muito a estrear em livro,
pois já estava na casa dos quarent'anos, quando publicou o primeiro título.
Logo em seguida, após breve pausa para meditação, surgiu
com o segundo volume, "Jornal de Domingo", reunindo crônicas
publicadas no suplemento literário de "O Jornal de Montes Claros",
no qual assina uma coluna permanente, dando cobertura às sua observações
pessoais sobre os acontecimentos do cotidiano. A continuar nesse ritmo editorial,
que já prevê o quarto e o quinto títulos, para muito breve,
Wanderlino Arruda acabará sendo o mais prolífico de nossos autores.
No momento, o recordista de publicação é o historiador
Geraldo Tito da Silveira. De outro lado, verifica-se que outros bons escritores
de Montes Claros, como Hermenegildo (Monzeca) Chaves e Caio Lafetá, produziram
maravilhas e coleções de jornais antigos, tudo arquivado. Também
João Chaves, o bardo, morreu sem editar o esperado livro de poemas, que
teve edição póstuma promovida pela família. Ora,
a cintilante beletrista Yvonne de Oliveira Silveira, que é a porta-estandarte
de nossas letras, tem apenas a meação de "O Velho Brejo das
Almas", feito em parceria com seu consorte Olynto da Silveira, autor de
vários livros. E Luiz de Paula, de refinado estilo, publicou apenas uma
plaqueta sobre tema econômico, ficando a nos dever a obra inédita
que deverá ser o espelho de sua face lírica e boêmia.
Pois bem, Wanderlino Arruda, que domina o vernáculo e tudo vê,
tem comportado, em seu mister de cronista assíduo, com a mesma obstinação
do arqueólogo que escava o subsolo em busca de civilizações
soterradas, para que elas não desapareçam no esquecimento. O que
se percebe, lendo-o, é a preocupação de fotografar o momento
para a eternidade.
Por isto, os historiadores do futuro consultarão muito os seus livros,
que para eles serão como essas garrafas trazidas pelas ondas do oceano,
contendo mensagens enviadas de lugares ignotos.
O Autor vem operando com repórter fotográfico do panorama geral
da cidade e do mundo, desse vasto mundo que começa em São João
do Paraíso e não tem onde acabar, e opera com habilidade para
captar o flagrante do cotidiano, com a luminosidade, a nitidez e o ângulo
recomendados pelos manuais da arte de bem fotografar.
Neste livro, ele abdicou de seu direito de selecionar a matéria e cedeu
a incumbência a leitores, inovando. Franqueou seu arquivo de recortes
a colegas de magistério, que lecionam na universidade do Banco do Brasil,
o Departamento de Seleção e Desenvolvimento (DESED), e pediu-lhes
que fizessem a triagem das crônicas. A rigor, creio sinceramente, caberia
aos integrantes da luzida equipe a honraria do prefácio. Porém,
o Autor, que é dado a atitudes que fogem ao convencional, escolheu um
dos muitos personagens do livro anterior para prefaciar a obra.
Só tem que isto aqui não é prefácio, segundo a forma
tradicional, significando apenas mera apresentação da obra, despojada
da ambição de analisá-la com profundidade e erudição.
Neste volume, o cronista edita o que é reputado de mais valioso em sua
obra (inédita) de colaborador da imprensa, e o faz muito bem, porque
receia que toda essa produção se perca na efemeridade do jornal,
que depois de lido vai para a pilha de papéis usados, cai no esquecimento.
Sobre a natureza descartável do que sai nos jornais, recordo ao leitor
um episódio ocorrido na juventude do romancista Ernest Hemingway. Aconselhado
pela escritora norte-americana Gertrud Stein, ele abandonou o jornalismo e abraçou
a carreira literária. Ela simplesmente o convenceu de que o jornalismo
é como o texto escrito de giz, no quadro-negro. Basta passar a esponja
para que desapareça ao passo que o livro é feito para ficar, para
ser lido, guardado, relido, guardado...
Se neste volume, o cronista foi pouco exigente quanto ao prefácio e até
cogitou de deixar em branco o espaço reservado ao prefaciador, em outros
pormenores revelou-se vaidoso e requintado. A começar pela editora, que
é a imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja chancela confere
prestígio. A vaidade falou mais alto, na escolha do ilustrador, que recaiu
no primoroso artista plástico Samuel Figueira, cujos desenhos de bico-de-pena
vão despertar a atenção e emoldurar o texto caprichoso.
Acrescente-se a essa vaidade o convite feito ao professor Eduardo Luppi, chefe
da equipe de artistas da UFMG, para a responsabilidade da arte final da obra.
Este livro, tão bem escrito e editado (com a composição
feita por computador), se fosse o último, completaria uma trilogia de
Wanderlino Arruda sobre aquilo que se chama "a alma encantadora das ruas",
porém ainda virão outros. A fonte inspiradora continuará
jorrando...
Quando ao título "O dia em que Chiquinho sumiu", esclareço
que não se trata de literatura infantil, embora dê a impressão,
merecendo ser lida por crianças e adultos, indistintamente, porque interessa
a todo mundo que gosta de ler.
Bom proveito!