Ah! A etiqueta!
Confesso que sou
leitor vidrado em regras de etiqueta. Não perco uma linha do que se fala
de educação e do bem-viver social, de como tratar as pessoas,
de como buscar uma convivência pacífica e polida com os nossos
semelhantes, principalmente quando pelo menos um mínimo de elegância
é exigido. Leio tudo. Seguir, obedecer às regras, fazer do bom
trato uma linha de vida é difícil, exige muita observação
e muito esforço, mas é sempre possível se a gente for incorporando
à cultura pequenos e grandes conhecimentos nesse setor. Cautela e cuidados
sociais não fazem mal a ninguém.
Claro que a educação ou a “finesse” em sociedade,
e por sociedade entender-se todos o relacionamento humano em qualquer parte,
merece vasta gama de obediências, uma forma natural de agir, o saber como,
quando e onde tomar atitudes. É preciso saber como e quando convidar,
presentear, receber, desculpar-se. É preciso saber vestir-se, dar festas,
ir a festas, sair com colegas e pessoas amigas, ir a um restaurante, a um barzinho,
a um lugar da moda. Também é preciso saber conversar ou escrever
um bilhete, uma carta ou simples recado sempre que isso for necessário,
seja hora triste, seja hora alegre das criaturas de quem gostamos. É
preciso saber o melhor comportamento no trabalho, nos esportes, em toda e qualquer
oportunidade.
Falando nestas coisas, lembro-me com saudades de uma experiência que tive
em 1979, no Rio de Janeiro, período em que ministrava um curso de Lingüística
para administradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava do almoço,
via no elevador, nos corredores e na entrada do auditório do Centro de
Treinamento um vasto mundo de mulheres elegantes e bonitas, cada uma mais educada
do que a outra. Num local em que a grande maioria era sempre de homens, aquela
quantidade de belezas no mínimo parecia curioso, logo não tardando
as explicações: havia ali um curso de etiqueta com uma professora
da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das secretárias de
alta direção. Era isso a razão do belo visual e da finura
do trato. Reunião de trato. Reunião de gente fina, que é
outra coisa. Time de primeira linha!
Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela manhã, por
um caminhão de razões, não tive outro jeito senão
pedir ao chefe Dalton, que por sua vez pediu à linda professora, para
que eu fosse aceito como ouvinte e oficial observador de todas as lições.
Imagine, minha senhora, que situação! Um homem só no meio
de quarenta mulheres civilizadas. Mesmo pegando o bonde já em meio de
caminho, não houve alternativa, tive que aprender tudo ou quase tudo.
É que nas discussões sobre o papel da mulher, nunca pude deixar
de representar o papel do homem, estabelecer o contraste de posições.
Por mais educação que houvesse, foi briga de nunca acabar: “machista
chauvinista, representante da tradicional família mineira, bandido!”
Foi um sucesso de aprendizagem. E como!