Catulo da Paixão Cearense

A Lagoa

Tu não tá vendo a lagoa,
aquela lagoa mansa
que parece uma criança
que tá durmindo, a sonhá?
As água tá tão serena,
que a mode que a biririba
caiu do céu, lá de riba,
pra todo o céu espeiá.
Mas porém óia, arrepara,
que basta só um beijinho,
um leve suspirozinho
do vento que não se vê,
pra aquela lagoa mansa,
tão serena e assocegada
ficá toda arrepiada
com as água toda a tremê!...
Pode sê uma bestera
mas porém é uma verdade
aqueilo que eu vô dizê:
vai caminhando... caminha...
Quando tu chegá na bera
daquela mansa rebera
espia, que tu verá,
no fundo daquelas água
tão serena e tão quilara
a cara da tua cara
lá no fundo a te ispiá!
Ou seje bunita ou feia,
tua cara, que parece
a cara da lua cheia,
tá ali... num sai do lugá.
Fica ispiando pra cara,
que a cara fica a ti oiá!
Mas caminha, vai-te embora,
que eu juro pru São Jerome
que a tua cara se assome,
que nem fica sombra inté!
Aquilo que fez cuntigo
ispeiando o teu sembrante,
faz cum outro caminhante,
o primeiro que vinhé.
Apois, aquela lagoa
é o coração da muié...
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Esta história da lagoa
num tá dentro da verdade.
Apois, se o home ispiasse
somentes numa lagoa
e junto dela ficasse
dia e noite, noite e dia
de sentinela e de espia,
eu juro pru Jesu-Cristo
e a Santa Virge-Maria
que a cara do descarado
nunca mais de lá saía!...
Mas, se em todas as lagoa,
de água limpa ou chavascá,
o home qué vê a cara,
o home qué espiá...
Eu vô fechá minha boca
pruque vanceis tá bém vendo
adonde eu quero chegá...