Era Assim...
Não faz
muito tempo, num comentário que fiz no Elos Clube sobre Hermes de Paula,
falando em continuidade dos registros históricos de Montes claros, apontei
a acadêmica Ruth Tupinambá Graça como a pessoa indicada
para essa tarefa. Sei que alguns ouvintes devem ter julgado minha opinião
como fruto de entusiasmo de orador de momento, um arroubo de amigo e companheiro.
A própria Ruth Tupinambá deve ter pensado o mesmo, pois sorriu
descrente, nunca se colocando como continuadora da obra do nosso mais famoso
historiador. A memória recente sobre Hermes de Paula ainda é muito
viva a admiração por ele é incontestável, a visão
de sua luta diária com os acontecimentos o coloca como insubstituível
e, por isso, ainda não se firmou o pensamento de que a história
não pára e exige outro acompanhante.
Continuo, pois, dizendo que depois de Hermes de Paula deverá vir Ruth
Tupinambá Graça. Não só deve, como precisa que venha.
Precisamos de alguém que conheça a cidade e sua gente, alguém
que goste do trabalho de registrar acontecimentos e de marcar as presenças
das personagens nesses acontecimentos. Alguém que tenha amor suficiente
à cidade e que saiba como manusear as palavras para pintar e descrever
os momentos dignos de registros. Precisamos sobretudo, de uma pessoa que seja,
ao mesmo tempo, repórter, cronista e contadora de histórias. E
estas qualidades a autora de “Montes Claros Era Assim...” tem de
sobra. Sem nenhuma intenção de fazer trocadilhos, posso dizer
que Ruth Tupinambá tem muita graça para isso. Escreve com a suavidade
de quem toma banho em cachoeira, com limpidez e transparência.
Ressalte-se também o fato de ela conhecer muito bem o passado de Montes
Claros, desde quando se entendeu por gente. Menina curiosa, versátil,
muito inteligente e perspicaz, ela observou tudo e, às vezes, até
acompanhou e viveu muitos episódios, principalmente a atuação
das pessoas, as visões de cortes sociais, os ambientes, as mudanças
físicas e psicológicas. Analista da alma humana, Ruth Tupinambá
alcança cada gesto, cada piscar de alegria, cada remoer de tristezas.
Em tudo ela vê cores, sons, dimensões, o amor ou o desamor, as
crendices, o folclórico. Ruth tem imensa saudade de todas as horas, e
isso lhe dá condições de sempre refrescar as lembranças
da memória e do coração. Parece-me um bom passaporte para
a posição de historiadora, pelo menos para a criação
de história apaixonada como sempre o fez Hermes de Paula.
Já quase sem espaço nesta crônica, quero dizer que o livro
“Montes Claros Era Assim...” é uma boa oportunidade de conhecermos
o passado da cidade, esse conjunto de gente sertaneja e vivedora que soube crescer
e multiplicar. É bom, minha senhora, ler depressa (ou devagar, conforme
o gosto) todas as crônicas do livro de Ruth Tupinambá para saber
tudo ou, pelo menos, o lado mais interessante das coisas e das gentes. Nelas
estarão os “cometas”, os bruaqueiros, o velho Christoff (pai
de Konstantin), o velho João Maurício, o primo Luís, o
Sinval e seu bar, a Euterpe Montes-clarense, o Cine Montes Claros, o “footing”
da Rua Quinze, as boiadas, os carros de bois, os circos, a brincadeira da argolinha,
a Matriz, um grande universo de assuntos que marcam saudades.
Depois da leitura, pode vir o julgamento se Ruth Tupinambá é ou
não nossa futura historiadora.